Vídeo mostra momento em que vigilante atira em homem em Joinville
- Luís Barreto
- 2 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
Analista em segurança pública e privada avaliou imagens e apontou erros
Desvio de funcionalidade e falta de orientação permanente são os principais problemas apontados por um especialista em segurança ao assistir ao vídeo gravado pela câmera da agência bancária de Pirabeiraba onde o vigilante Felipe Gonçalves Leal, 31 anos, disparou contra o instrutor de trânsito Edson Luiz Gadotti, 35 anos, que morreu no local.
"AN" teve acesso a um trecho do vídeo que mostra o vigilante, já com a mão na arma, indo até o lado da porta giratória da agência para conversar com Edson pela última vez. É possível ver que os dois estão discutindo e que Felipe mostra a arma apenas por alguns segundos antes de atirar pela primeira vez. O vidro da porta quebra e Edson tenta se esquivar pelo lado esquerdo, e não pelo lado direito, onde havia a primeira porta do prédio. Sem esboçar reação, ele é atingido por mais dois tiros, poucos segundos depois do primeiro, e cai no chão. O vigilante, que havia saído pelo espaço aberto pelo vidro para atirar, retorna ao posto devagar, sem guardar a arma.
O especialista em segurança pública e privada Jonas Alves da Silva, que há dez anos atende a escolas de formação com palestras, assistiu ao vídeo completo e analisou o caso. Segundo ele, o primeiro erro ocorre pelo desvio de função. Como o vigilante é um funcionário terceirizado contratado exclusivamente para proteção, ele não deve se envolver com a rotina da agência bancária. — Ele deveria chamar um funcionário para conversar com o cliente, em vez de ficar "batendo boca". O correto era se afastar e dar cobertura para o funcionário da agência, no caso de ser uma armadilha — avalia Jonas. Segundo o especialista, por lei os bancos também devem ter dois profissionais de segurança: um cuidando da porta e outro atrás do escudo. Como a agência onde este caso ocorreu é uma agência de cooperativismo de crédito, ela não tem obrigação legal de atender a esta lei. Ele destaca que, em sua experiência, percebe que 100% das ocorrências entre vigilante e cliente em bancos acontecem porque o profissional de segurança estava desempenhando uma atividade que não tem a ver com sua função. Outro ponto apontando por Jonas no procedimento do vigilante foi a falta de equilíbrio emocional do profissional: depois de discutir com o cliente, ele teve a frieza de atirar, engatilhar a arma e disparar mais duas vezes, mesmo quando Edson já estava no chão.

— Mesmo depois que o homem foi alvejado, ele engatilha a arma e dá mais dois tiros. Então, volta para a postura de segurança, como se nada tivesse acontecido, e nem examina a vítima para verificar se há uma arma que eu, pelo vídeo, não consigo enxergar — diz Jonas. — Essa frieza me assustou. A postura dele foi totalmente incorreta.
Para o especialista, a única forma de evitar que um profissional habilitado, experiente, com treinamentos e reciclagem profissional em dia — como a Onseg Serviços de Vigilância e Segurança Ltda., contratante do vigilante, alegou que ele era — não se envolva em casos de violência é a orientação permanente. Situações com clientes nervosos e mal-educados podem ocorrer todos os dias, em todas as agências bancárias do País. — Você não sabe pelo que o cliente está passando, porque ele está agindo daquela forma, mas é o vigilante que precisa ter equilíbrio emocional, e não o contrário — avalia ele.